Construindo um Novo Passado!

Revendo os paradigmas dos arquivos históricos na era digital, na qual nem tudo existirá fisicamente.

Construindo um Novo Passado! - RioOffsite

Conversando com alguns amigos arquivistas e biblioteconomistas, com formação em História, percebi uma resistência natural em absorver as mudanças quanto à nova legislação que permite descartar os documentos em Papel, após a digitalização. A Lei 13.874 de 20/09/2019, que no seu artigo 10, parágrafo 1o, iguala o arquivo digital ao microfilmado e ao papel, permite que este seja descartado. Alguns ficam “bravos” ao debater o assunto, contudo, parece-me claro na Lei que a decisão de manter ou não o Papel é soberana do “titular” do documento e dos profissionais responsáveis pelo arquivo.

A Lei 13.874 não obriga jogar o Papel fora!

Não há motivo para discussão e polêmica, pois cada profissional pode conduzir seus métodos de trabalho sob sua óptica arquivística e manter as versões dos documentos no formato que lhe convier.

Um ponto interessante que aparece mencionado na Lei é a obrigação de se guardar documentos de caráter Histórico, ou seja, não se pode descartar documentos desse tipo. Isso parece lógico, até mesmo óbvio, mas… como prever que um documento se tornará Histórico? A não ser aqueles que tem já têm importância pública ou política, ou produzidos por figuras notórias no momento em que o documento for gerado, a reflexão se dá ao deparar-se com personagens até então desconhecidos que só ganharão visibilidade e caráter histórico – sob o ponto de vista arquivístico – depois de algum tempo, ou mesmo após a sua morte. Trata-se de um exercício de “adivinhação”!

Museus do Amanhã!

A tecnologia e a inovação têm sido uma grande ferramenta para transformar os “velhos” museus em verdadeiras fontes de conteúdo e entretenimento. Muito se tem evoluído mundo afora, com cada vez mais interatividade e associação de tecnologia audiovisual para promover “Tours Virtuais” e maior aproveitamento dos acervos, com instruções, informações relevantes e dados históricos aos visitantes.

Além disso, cada vez mais, os Museus Digitais estão presentes no cenário cultural do Mundo. Não diferente disso, no Brasil, há diversos Museus futurísticos baseados em tecnologia digital para entreter os visitantes através de áudio, imagens em vídeo, painéis interativos, hologramas, experiências em realidade aumentada, etc. Esses novos Museus estão disponíveis nas principais cidades do mundo.

Essa nova era para a preservação do conhecimento vem diferir em parte do estereótipo do Museu onde se guardava coisas antigas, fato que torna essa versão em uma “peça de museu”, sem querer fazer um trocadilho infame!
Destaco alguns dos exemplos mais notórios do nosso contexto atual: o Museu do Amanhã no Rio de Janeiro; o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol, ambos em São Paulo, são os mais famosos, atualmente, que praticamente têm seus acervos baseado em “Itens Digitais”, projetados e escutados com grande interatividade pelos visitantes.

Segurança dos acervos de Valor Histórico:

Um gerenciador de risco deve pensar em todas as hipóteses no que diz respeito à segurança dos acervos. Não é mau agouro ou superstição pensar em possibilidades, tais como desastres naturais, incêndios, ataques ou sabotagem causados por pessoas motivadas por vingança, divergência ideológica radical ou, mesmo, apenas por loucura. Perdas significativas e irreparáveis que aconteceram recentemente, simplesmente, eliminaram definitivamente conteúdos históricos de valor inestimável. Com certeza, uma versão Digital desses acervos jamais substituiria a original, mas, sem dúvida, pode trazer algum alento nos casos em que aquele formato passa a ser a única memória desses acervos perdidos.

Um outro fato que gostaríamos que não acontecesse, mas que é uma realidade dura, principalmente em nosso país, é a perda de processos de preservação ao longo do tempo. Acervos desapareceram completamente, porque seus gestores perdem a capacidade de manter a conservação adequada dos acervos físicos. Recentemente li a biografia do Marechal Rondon (Rondon – Uma Biografia, Rother, Larry – Editora Objetiva 2019), na qual o autor relata que encontrou acervos históricos perdidos em um local onde não havia capacidade de se conservar documentos físicos. Infiltrações e infestações contaminantes inviabilizaram o manuseio dos documentos históricos. Por sorte, o autor conseguiu localizar o que buscava em um material copiado, em uma Universidade Americana, por conta de uma tese de Doutorado de um de seus professores, vários anos antes.

Sem trazer questões de ordem política a este assunto, o importante é garantir que versões digitais possam existir em arquivos e que possam ser mais bem preservadas. Contudo, guardar os arquivos digitais, por décadas ou séculos, será o desafio para os novos Historiadores do Futuro.

Penso que, daqui a algum tempo, haverá uma nova geração de “arqueólogos digitais” (arqueólogos de dados) que pesquisarão os novos “sítios arqueológicos” perdidos nos servidores em datacenters desativados ou em mídias magnéticas, disquetes, fitas rolo, DLTs e LTOs abandonadas em Salas de Segurança*.

A História está sendo construída no Presente pra se tornar no Futuro o que será lembrada pelos historiadores como “Novo Passado”!

(*) Na Sala de Segurança da RioOFFSITE em 2019, existe um acervo de mais de 10 mil itens arquivados em mídias que já não são mais usuais, Disquetes 3 ¼, fitas DAT, fitas 3490, fitas DLT, entre outras.

Rio de Janeiro, 14 de Outubro de 2019.
Laert Perlingeiro Goulart.

Fontes:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Arqueologia_de_dados

https://museudoamanha.org.br/livro/Livro_MdA_DIGITAL_PORTUGUES.pdf

http://museudalinguaportuguesa.org.br/memoria/exposicao-principal/

https://www.museudofutebol.org.br/pagina/exposicao-longa-duracao

SOBRE O AUTOR

“Laert Perlingeiro Goulart, é Engenheiro Civil formado pela Universidade Católica de Petrópolis, atuou como empresário da construção civil até 2005 quando tornou-se executivo de uma empresa de Logística, onde atuou ate 2017. Hoje é executivo de uma empresa de T.I. voltada para tecnologia de gestão de documentos, arquivos digitais e backup. Nas horas vagas gosta de tirar fotos e apreciar uma boa cerveja artesanal e compartilha isso no seu Instagram @laert.goulart

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